Este é o blog oficial de Beto Guedes.
É mais um espaço criado especialmente para seus fãs .
Sintam-se em casa!

(Criado em: 11/01/08 por Lívia Bastos)






quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

MILTON NASCIMENTO ENTREVISTA BETO GUEDES - 1986.

MILTON - Relembrando aqueles tempos, como foi o negócio do The Beavers?
BETO - Ah! Foi o primeiro conjunto, né? Esse nome foi escolhido porque era o que mais parecia com The Beatles. A gente descobriu no dicionário. Beaver é castor, em inglês. Eu devia ter uns doze anos, por aí. O conjunto era eu, Lô, o Yê (irmão do Lô) e o Marcinho. Eu tocava violão. Desde os tempos de Montes Claros. Aqui, com essa turma, a gente cantava e interpretava músicas dos Beatles. O The Beavers era um conjunto mais vocal. Só eu tocava. Era um violão e quatro vozes. A gente tocava as coisas dos Beatles e uma poucas coisas mais... (Pensa melhor e continua). Não, prá falar a verdade, parece que a gente só tocava os Beatles mesmo, há, há, há.
MILTON - E os Brucutus?
BETO - Ah! É... Daí a pouco, os Beavers acabaram e, como eu ia passar férias em Montes Claros, fui convidado prá tocar contrabaixo num conjunto lá, chamado "Os Brucutus".
MILTON - E o que eram os Brucutus? Faziam baile?
BETO - Ah! Cara, os Brucutus faziam bailes sim. Só que tocando as mesmas músicas dos Beatles (risos). Só que já era mais instrumental. Era um conjunto que já tinha guitarra, contrabaixo e bateria. Tinha uma formação mais pesada.
CHICO - E como foi que você conheceu as músicas dos Beatles?
BETO - Ah! Eu tocava violão, mas só tocava músicas mais antigas e algumas coisas do velho Godô. Um dia, aqui em Belo Horizonte, apareceu um disco lá em casa, um LP, um tal de "As 14 mais". E daí tudo começou a mudar. Era um disco que misturava sucessos do mundo todo. Tinha música francesa, italiana, tudo. Ah! (faz uma cara de boa lembrança). Tinha também "Au revoir" - bonito demais, cara - com o Gilbert Bécaud (lembra e cantarola a música: "au revoir... au revoir..."). Mas do outro lado tinha "Twist and shout" e "I want to hold your hand". Ah! Tem mais uma coisa: os discos que a gente tinha lá em casa eram com fotografias bem sérias nas capas. Homens sérios, com gravata, tudo... No disco "As 14 mais" tinha um retrato bonito prá caramba na capa. Eram uns caras cabeludos, de franjinha. Tinha o George com a perna dobrada, assim (mostra). Gostei da música, das músicas. Demais, cara. Mas olhava pros caras e pensava: tudo bicha cabeluda. Isso não é homem. Com esses cabelos, eles devem ser bichas! (risos gerais). Mas depois eu não vi mais nada deles. Até que um dia passou um filme em Belo Horizonte. Os Reis do Ié-Ié-Ié. O Lô e a turma vieram me chamar para ver o filme, que era um barato, que era uma loucura, mas eu tava sem dinheiro prá ir pro cinema. Foi num domingo à tarde. Não fui. No dia seguinte, eles vieram prá minha casa e me contaram sobre o filme. Estavam maravilhados. Eu, que não tinha ido, cortei a conversa dizendo que tudo aquilo era bobagem, que era coisa de bicha, ou vocês não viram os cabelos deles?
CHICO - E depois você teve que voltar atrás. Tanto que usa esse cabelão até hoje.
BETO - Claro, cara. Claro! Mas foi assim: eu critiquei muito e tudo, até que um dia o Lô e o Yé chegaram lá em casa com um disco cheio de retratinhos na capa. Era o disco do filme. Aquela capa me encantou mesmo. Que loucura! Era a capa de disco mais moderna que eu já tinha visto. O jeito dela era diferente mesmo. Fiquei ali, peguei o disco, pus prá tocar e não parei mais. Até hoje. Depois foi aquele negócio de passar dias e dias com o violão dentro do quarto, tentando tirar os mesmos acordes. Até que a gente decorou todas as coisas deles. As vozes e tudo. E foi assim.
MILTON - Esse negócio me faz pensar numa pergunta: como é essa ligação do norte de Minas com Liverpool, na Inglaterra? Como é que essa coisa passa na sua cabeça?
BETO - Sei lá, Bituca...Mas um dia eu estava conversando com o Fernando Brant e pensei: eu acho que tem alguma coisa lá no meu sentimento e uma coisa igual no sentimento de um inglês... Lá, aquele povo... Parece que bate parecido...
MILTON - Bate forte?
BETO - É, bate forte!
MILTON - Bate na alma mesmo?
BETO - É...Deve ser uma questão de alma mesmo.
MILTON - Tá bom. Mas vamos pra outra coisa: você contou desses dois conjuntos onde você tocou, que conheceu o Lô aos nove anos de idade... Tem uma coisa engraçada: é parecido com a minha história e a do Wagner (Tiso), porque a gente começou do mesmo jeito. Conta um pouco disso aí. Desse negócio do Clube da Esquina, que era uma música, que virou disco e que depois acabou sendo quase o nome da gente! Deram prá chamar todos os mineiros de Clube da Esquina!
BETO - É Bituca. Você morou no mesmo prédio que o Lô. Foi por causa disso que a gente se conheceu! Mas, depois que os Brucutus acabaram, eu reencontrei o Lô e a gente começou a olhar mais o seu trabalho, a gente já começou a curtir um pouco mais a música brasileira. Embora o Lô, enquanto eu estava com os Brucutus em Montes Claros, já tivesse mais contato com você, já curtia as suas músicas, as músicas do Wagner... Ah! Tinha o seu trio. Como é mesmo que se chamava?
MILTON - É... O Berimbau Trio
BETO - Tinha uma porção (risos)... Haja trio! Mas foi nessa volta que eu comecei a me envolver, a querer compor também. Aí é que aconteceu aquela experiência que me marcou demais: a de ter participado do Clube de Esquina, do disco, como músico bem atuante, porque eu acho que toquei em quase todas as 21 faixas. De carrilhões a contrabaixo.
MILTON - É... E você cantou também. A gravação de "Nada será como antes" é considerada antológica pelos grandes!
BETO - Mas a gente pode lembrar também da época antes do disco do Clube da Esquina, daquelas aventuras lá de Mar Azul, lembra? Mar Azul também foi uma coisa muito interessante prá minha vida. Antes do disco, você chamou o pessoal que ia cantar, tocar, gravar, enfim, a turma que ia fazer o disco, prá gente ficar retirado numa casa em Niterói, numa praia chamada Mar Azul. A gente passou seis meses ali. Era um lugar bem afastado. Praticamente só a gente morava ali. Foi uma coisa sui generis, uma coisa que eu nunca vi ninguém fazer. Ficar ali trabalhando e preparando um negócio especial...
MILTON - E o Beto compositor? Qual foi a sua primeira música gravada?
BETO - A primeira música que eu fiz e que foi gravada foi "Feira Moderna". Fiz com o Lô e o Fernando Brant. Foi a música que a gente mandou pro FIC - Festival Internacional da Canção. Ela foi classificada e a gente, naquela época, ficou meio assustado com aquele negócio de Maracananzinho com 30 mil pessoas.
MILTON - Aquela montoeira de gente...
BETO - Nossa mãe! E é interessante que essa música foi, outra vez, o ponto de ligação com você, com o Wagner e com o Clube da Esquina! A gente resolveu pedir ao Som Imaginário - que era o conjunto que te acompanhava, pra defender aquela música no Festival. Eu acho que foi o começo de tudo pra depois ir tocar no Clube da Esquina, tocar no disco do Lô e fazer o meu disco. Foi ali que eu dei o salto pra começar a batalhar mesmo como compositor. Foi dali que eu animei a gravar o meu primeiro LP, "A Página do Relâmpago Elétrico".
(Entrevista para o Jornal Catavento, Nov/1986, com participação de Chico Pinheiro)
(Esta matéria foi retirada do site oficial de Beto Guedes)

3 comentários:

Anônimo disse...

Amei esse blog, Beto Guedes é tudo de bom, uma alma linda.
Débora Pinheiro

Parabéns Livia, já te conheço do orkut
Débora Pinheiro

Ede disse...

Sempre que a verdade se apresenta é bom!!

Edgar Cherubini POA/ RS

Unknown disse...

Coisa linda de depoimento. Só o lindo Beto e Milton para trazer as palavras com tanto amor, tanta profundidade. Amo eles....